CTT – “NOSSAS PESSOAS”??? Nossas de quem???

A propósito da pretensamente inovadora expressão “nossas pessoas”, nos CTT…!!!

És Trabalhador(a) CTT?

Então, se depois de te baptizarem de “colaborador(a)” te rebaptizaram de “nossa pessoa”, recomendamos a leitura deste “Almas mortas”, a obra emblemática do Nicolau Gogol.

Talvez te ajude quer a perceberes a fixação em fazerem-te esquecer a tua condição de Trabalhador(a) quer a demonstrar-te que, se não há almoços grátis (e muito menos cartões refeição), também ninguém baptiza ou rebaptiza um trabalhador de “colaborador(a)” ou de “pessoa”, de graça.

Neste livro, dito poema mas escrito em prosa, Gogol fala-nos de um jovem russo, Pável Ivánovitich Tchítchicov, que tinha por peculiar ocupação comprar “almas” mortas.

Convém dizer que “almas” era a designação comum para os mujiques (camponeses russos) na época feudal e de servidão pura que começou em 1645 com o Czar Aleixo e vigorou na Rússia até 1861 (mas que na prática só veio a terminar efectivamente em 1917, com a Revolução Soviética)

Na Rússia daquele tempo (a acção do livro começa em 1835) a riqueza media-se pelo número de “almas” que cada um possuía, o numero de PESSOAS de que era dono, sendo o proprietário da terra também dono das PESSOAS que nela nasciam, cresciam, viviam, trabalhavam e morriam. Os mujiques eram por isso propriedade dos donos das terras, eram as suas “almas”, as suas PESSOAS.

Os donos das terras tinham que declarar quantas “almas” tinham nas suas terras e tinham que pagar impostos sobre elas, incluindo as que tinham falecido entre dois censos.

Pável tinha origens menos que modestas, miseráveis mesmo, mas era senhor de uma lábia a toda a prova, tendo sempre a palavra certa para o momento e o elogio seboso sempre pronto na ponta da língua.

Um verdadeiro especialista na aplicação do “efeito espelho” tão usado em marketing nos dias que correm… basicamente dar (melhor, vender…) aos outros o que se quer, fazendo-os crer que é o que eles querem.

O pai de Pável tinha-o criado para singrar na vida, a bajular/”engraxar” e agradar sempre aos seus superiores e benfeitores, a não ser homem de amizades ou solidariedades e a galgar sobre tudo e todos tendo como fim o dinheiro e o poder que ele dá já que, segundo o pai de Pável, “…nada na vida é mais importante que o dinheiro “.

Ao comprar-lhes as “almas” mortas por meia-dúzia de tostões, Pável aliviava os proprietários do pagamento de impostos sobre as mesmas. Mas para que queria ele as “almas” depois de mortas, que lucrava ele com elas?

A generalidade dos proprietários nem queriam saber do porquê, que destino ele lhes daria, e vendiam-lhe as suas “almas” mortas baratas, baixando assim o valor dos impostos a pagarem… isso porque ainda não tinham inventado os cartões refeição, senão outro galo cantaria.

Mas, não percebendo para que queria Pável as suas “almas” mortas, alguns proprietários, desconfiados e procurando lucrar mais com o negócio, começaram a tentar inflacionar o preço das suas “almas” mortas.

Faziam-no alegando que teriam de pensar muito bem se iriam vender determinada “alma” que alegadamente fora devotada ao proprietário e à sua família, outra porque teria morrido a trabalhar sem olhar a esforços e sacrifícios,… … … enfim, cada um “fazendo render o seu peixe”, querendo vender as suas “almas”, as suas PESSOAS, mesmo que mortas, pelo melhor preço.

Por lei o sistema foi abolido 1861 por Alexandre II, o avô do último Czar da Rússia mas, na prática, muitos dos mujiques continuam a viver ali como “almas” (alguns até meados da segunda década do Século XX), por falta de opções para venderem o seu trabalho e passarem a ser trabalhadores deixando a condição de “almas”, de servos, de escravos.

Resumindo, para que queria Pável as “almas” mortas que comprava?

Bem, na prática as “almas” mortas que não tinham sido como tal declaradas no censo anterior podiam, antes do censo seguinte, ser dadas como penhor num qualquer empréstimo. Ou seja mil “almas” mortas que lhe tinham custado 500 rublos mas que vivas valeriam 500.000 rublos podiam, antes do próximo censo, ser empenhadas por 500.000 rublos ou mais servindo de penhor a uma qualquer transacção ou empréstimo.

Enfim, engenharia financeira do melhor levada à prática por gente que, fosse hoje, não diria “as minhas/nossas almas” mas “as minhas/nossas pessoas”.

Todas estas linhas, sobre Pável Ivánovitich Tchítchicov e as “almas”, mortas ou vivas, dá que pensar, verdade?

E depois disto, Trabalhador(a), ainda achas que ser baptizado(a) de “PESSOA” é tão inocente e tão friendly como te querem vender?

Pensa nisso e tem em atenção que em enganos de “papas e bolos” só caem os… sim, esses mesmo!

Dizem que te querem homenagear?

Pois então comecem por te pagar o que te é devido, que acabem com o prejuízo que te estão a provocar com o cartão de refeição, que admitam trabalhadores(as) em número suficiente para te respeitarem e à imagem dos CTT que, por gerações e gerações foi sinónimo de qualidade e bem fazer e agora está, infelizmente, onde está.

Homenagens? Homenagens fazem-se aos mortos, às “almas”, e tu estás bem vivo(a) e a tapares a asneirada de gestão que está a afundar os CTT e os seus 500 anos de boa imagem junto dos portugueses, verdade?

JÁ AGORA… “COLABORADORES(AS)” FORAM, POR EXEMPLO, OS(AS) QUE ACABARAM CARECAS E/OU APEDREJADOS ATÉ À MORTE NOS PAÍSES OCUPADOS PELOS NAZIS – POR TEREM COLABORADO COM AQUELES ESBIRROS – QUANDO AQUELE HEDIONDO REGIME CAIU E… QUANTO A “NOSSAS PESSOAS”… TU ÉS PROPRIEDADE DE ALGUÉM? QUERES ACABAR COMO AS “ALMAS” QUE GOGOL TÃO BEM DESCREVEU?

NÃO QUERES POIS NÃO?

ENTÃO NAO TE DEIXES LEVAR PELO MARKETING… RESPEITA-TE SE QUERES SER RESPEITADO(A) ATÉ PORQUE É ISSO QUE TE É DEVIDO.

NÃO ESQUEÇAS QUE TU ÉS UM(A) TRABALHADOR(A) CTT, TÃO SÓ E SIMPLESMENTE ISSO MESMO – TRABALHADOR(A) CTT.

DÁ-TE AO RESPEITO, DIZ NÃO, REIVINDICA E LUTA POR TI, VENCE COM TODOS.

SNTCT – A força de continuarmos juntos!